Sucedeu
que, acabando o Senhor de falar a Jó aquelas palavras, o Senhor disse a
Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus
dois amigos, porque não falastes de mim o que era reto, como o meu servo
Jó.
Jó 42:7
"Onde estavas tu, quando Eu fundava a Terra? Faze-mo saber, se tens inteligência". Jó 38:4Jó 42:7
Finalizando esta série de posts sobre a teoria da Terra Plana (começamos em outro blog que mantenho e você pode acessar os textos anteriores no final deste texto), agora vamos fazer algumas análises teológicas a respeito do que os terraplanistas assumem como sendo evidência de que a Terra seria plana. Para as "provas bíblicas" para esta teoria, os terraplanistas chamam de "sabedoria bíblica", e sobre elas e algumas outras coisas falaremos aqui finalizando esta série.

Os argumentos terraplanistas bíblicos estão baseados em basicamente dois trechos da bíblia: a descrição do capítulo 1 de Gênesis, e no livro de Jó, mais alguns outros versos espalhados pela Bíblia. Eu não vou dizer que iremos começar pelo início, porque ao contrário do que muitos possam pensar, o início não é Gênesis, mas sim Jó. Segundo os historiadores e a tradição rabínica, o livro de Jó foi o primeiro livro da Bíblia a ser escrito, provavelmente por Moisés. O que seria muito interessante visto que o pentateuco foi escrito usando vários gêneros literários, Jó é um livro poético, e por isso fica junto com os outros livros poéticos na Bíblia.

Quando vamos porém ao livro de Jó, encontramos vários versos que são a base das crenças terraplanistas: o céu é uma abóbada sólida (Jó 22:14), a terra é sustentada por colunas (Jó 9:6) e que ela é plana e está sob um círculo (Jó 26:10). Mas para entender estes versos, é necessário entender o livro de Jó como um todo! O livro de Jó conta a história de um homem que vivia em Uz que foi vítima de uma aposta entre Deus e Satanás. Satanás apostou que se retirasse de Jó as bênçãos que Deus havia dado à ele, Jó deixaria de ser fiel a Deus e até blafemaria o nome de Deus. A aposta foi feita e Jó perdeu filhos, bens e saúde. Seus amigos foram visita-lo, sua mulher permaneceu com Jó, mas ficou com a fé abalada e enquanto os amigos de Jó estavam com ele, tentavam provar por A+B que Deus era fiel e Jó havia pecado, portanto merecia ter perdido tudo, enquanto Jó tentava provar por A+B que ele não havia pecado, e embora Deus fosse justo, ele não sabia por quê estava sendo vítima de tantas desgraças.
Esta é a lógica do livro de Jó, e o que isso tem a ver com a teoria da Terra Plana? Tudo, porque entendida esta lógica, a gente desconstrói os fundamentos da crença terraplanista! Os capítulos 1 e 2 relatem a aposta; os capítulos de 3 a 37 relatam a discussão entre Jó e seus amigos; do 38 ao 42, Deus aparece, desconstrói tudo o que eles disseram e muda a sorte de Jó restaurando em dobro o que ele havia perdido. Isso é fundamental de se entender porque todos os argumentos terraplanistas baseados em Jó, estão entre os capítulos 9 e 37! Vamos analisar estes versos que citei no parágrafo anterior e ver quem está falando? Jó 9:6 e 26:10, quem está falando é Jó; Jó 22:14, quem está falando é Elifaz. Jó não havia pecado para sofrer o que sofreu, mas ele e seus amigos estavam totalmente equivocados em suas ideias a respeito de Deus e de Sua obra da Criação (Jó 38:4; 40:1-5; 42:1-7).
É fácil encontrar diversos trechos de Jó e seus amigos falando sobre a Terra e dando essas descrições terraplanistas, mas de onde eles tiraram essas ideias? Essa é a base dos questionamentos que Deus faz a Jó a partir do capítulo 38. Jó e seus amigos não estavam na criação do mundo, nunca tinham visto a Terra de outro ponto de vista se não o de onde eles viviam, como é que eles podiam dar tantas descrições assim? Provavelmente, eles já estavam reproduzindo estórias e conceitos inventados ou eles mesmos inventaram os seus, naquela época o conhecimento era passado oralmente, e por causa disso, muitas ideias errôneas foram se misturansdo a verdades.
O que eles descreviam, era o que eles podiam provar com seus olhos, porém, como seres humanos, somos muito limitados, não podemos provar quase nada a partir de nossas percepções, pois somos facilmente enganados por elas. As estrelas são amarelas, brancas ou azuis, mas praticamente as enxergamos todas brancas. É possível que vejamos uma estrela morta no céu, pois mesmo morta, a sua luz continua a viajar pelo espaço e vendo esta luz, podemos ser levados a acreditar que ela continua viva ali. Nosso olho não consegue captar bactérias, espermatozoides, células em sua individualidade, mas não é porque não podemos ver que eles não existem. Nossa visão é muito inferior ao de uma águia; nosso olfato e audição é muito inferior ao de um cachorro, lobo ou hipopótamo. Portanto, não podemos confiar em nossas percepções como provas de que a realidade é o que estamos vendo, na verdade, segundo a Bíblia, nosso olhar não é inocente, não olhamos as coisas como elas são, mas sim como nós fomos treinados a ver ou como preferimos ver pois "enganoso é o coração" (Jeremias 17:9). E talvez essa é a função do livro de Jó, não apenas mostrar que Deus está no controle, mas que nós somos muito pequenos para entender a complexidade das coisas. Ele nos dá inteligência e meios para desenvolvermos nossas percepções, mas é fácil notar que a cada passo a mais, mais vemos nossa pequenez. E talvez o maior erro dos terraplanistas não seja acreditar na forma da terra como um disco no espaço, mas acreditarem com toda a convicção de que o ser humano é maior do que o que a Bíblia e a ciência revelam que somos.
Fonte:
As cores das estrelas. Site www.zenite.nu
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