"E vossos filhos pastorearão neste deserto quarenta anos, e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que os vossos cadáveres se consumam neste deserto". Números 14:33
Minha infância, adolescência e início da
juventude foram vividos em um lugar bem simples chamado Jardim Planalto, na
cidade de Luziânia-GO. Através de uma brincadeira que ouvi quando ainda
criança, criei a minha própria e digo que lá por aquela região há muitos
“jardins” (muitos bairros tem a palavra jardim no nome), porém, em lugar de se
ver flores, é possível ver muito mato e poeira. Mesmo com todos os seus
problemas, eu gostava muito daquele lugar e até sonhava em continuar toda a
minha vida por lá mesmo. Apesar de nunca ter sido assaltado por lá, por várias
vezes ladrões entraram em minha casa e roubaram coisas que minha mãe adquiria
com labor. E em um lugar como naquela cidade, pouco se pode usufruir dos bens
que se conquista com trabalho, porque os ladrões logo as roubam, ou a simples
ameaça da insegurança já provoca o desconforto. Chegamos a ter nossa casa
roubada por quatro anos consecutivos, depois de uma trégua, os ladrões voltaram
a atacar e em quinze dias entraram em nossa residência. Da última vez,
estávamos dormindo quando tentaram entrar em casa, mas graças a Deus não
conseguiram e então decidimos sair dali, já tornara-se insuportável conviver
naquela situação. Daquele dia para frente, enfrentaríamos (minha família e eu)
uma longa caminhada pelo deserto em busca de um lugar para morar, fomos para
casas de parentes e não perdemos a esperança de que iríamos conseguir nos
equilibrar um dia.
Acho
que todos que leem as histórias da peregrinação dos israelitas no deserto ficam
pensando como aquele povo podia ser tão mal agradecido. Mas pare para pensar um
pouco se você estivesse no lugar deles, de que forma você agiria? Todos do povo
tinham sangue hebreu, porém eram egípcios de nascença, pois haviam nascido na
terra do Egito. Nasceram, foram criados, cresceram e tudo que puderam
conquistar, eles conquistaram no Egito. Trabalho, escola, família, até a
religião já estava egipcializada, se é que posso dizer isso. Toda a vida da
maioria ali foi passada no Egito. Só tinha um detalhe: eles eram escravos. Mas
haviam nascido escravos e embora sonhassem em um dia não mais serem escravos,
muito provavelmente faziam seus planos pensando que morreriam escravos.
De repente, surge um
homem de oitenta anos de idade (Êxodo 7:7) dizendo que vai libertar a galera da
escravidão. Ali surgiu um raio de esperança. Finalmente o povo hebreu teria uma
identidade! Imagine-se lá. Você é escrav@, e aparece essa pessoa dizendo que
veio da parte de Deus, etc. e tal e que veio para libertar você e sua família
da escravidão. A sensação que você sentiria lá seria provavelmente a mesma
sensação de uma pessoa idosa bater na porta da sua casa e dizer para sua
família que Deus a mandou ali para livrar você e sua família das garras do governo.
O Governo Federal não vai mais cobrar impostos seus, é uma ideia anarquista,
mas Moisés ali para o povo estava sendo como um líder anarquista. Como você se
sentiria nessa situação? Bem, uma mistura de felicidade e dúvida ao mesmo
tempo, será que é uma boa ideia confiar nesta pessoa?
Aí ele diz que vai
falar com o Faraó. Na primeira conversa o Faraó já se irrita e manda o trabalho
ficar mais pesado e requer a mesma produção do povo, para ele, se o povo está
com essas ideias, é porque são vagabundos (Êxodo 5:17). É como se aquele cara
que falou com vocês fosse na Presidente Dilma e falasse para liberar vocês dos
impostos e ela com raiva da ideia mandasse dobrar os impostos para vocês e com
o salário sendo o mesmo, como você se sentiria? Depois de um banho de água fria
desse, já era de se esperar que o pessoal ficasse com raiva de Moisés.
Mas ele falou com o
povo, pediu mais um tempo e voltou a conversar com o Faraó. Daí em diante
começa uma sucessão de acontecimentos assombrosos... o velhinho faz seu cajado
se transformar em uma serpente, depois faz com que as águas do rio Nilo se
transformem em sangue, depois faz uma peste de rãs invadirem a cidade, depois é
piolho atacando a galera, depois o país fica infestado de moscas, depois os
animais morrem, depois o povo e os animais são atacado por úlceras, depois
chove pedra, depois são atacados por gafanhotos, depois uma escuridão atinge o
Egito e por fim os primogênitos morrem, mas em nenhuma dessas pragas algum
hebreu é atingido. Imagine se aquele velhinho que apareceu na sua casa
prometendo aquelas coisas fizesse isso no Brasil, em qual dessas pragas você
teria a certeza de que ele era um homem de Deus?