AMIGOS E 'AMIGOS'

Desviaste para longe de mim amigos e companheiros, e os meus conhecidos estão em trevas. Salmos 88:18

Vivemos em uma época muito interessante, onde temos fácil acessoa às informações e explodimos de liberdade de expressão. Opinar é sempre muito importante, porque quando falamos, abrimos nossa mente para argumentação, para reflexão... No entanto, não é apenas falando que podemos fazer isso, ora, ao meu ver, nem é lá a melhor forma de se refletir.

Nós, seres humanos, gostamos de falar, para deixarmos nossa opinião bem clara, ou muitas vezes, nossa opinião é a de preferir não falar. Todos nós, em determinados momentos, preferimos não falar. E eu tenho notado isso, tenho muitos amigos no Facebook e no Whatsapp, o que não significa que são meus amigos na vida real, não, não. Amizade cybernética não tem nada que ver com amizade de verdade.

A diferença das amizades cybernéticas para as amizades de verdade é que as amizades de verdade sentem a necessidade de sua presença, e se não a tem, intitulamos esta necessidade de saudade. Na amizade cybernética não existe saudade, existe uma vontade de trocar algumas ideias, perguntar como a pessoa está, mas nada sem muito compromisso. Na amizade cybernética, praticamente, não existe compromisso. Compromisso e saudade só existem na amizade cybernética se esta for uma amizade que existe do lado de fora da internet.

As amizades de verdade, do mundo real, tem uma grande caracterísica que é a troca de informações, a troca de experiências, de opiniões. Na amizade cybernética, em pouquíssimos casos, existe preocupação com a opinião do outro, porque estamos mais preocupados em expressar nossa opinião, que julgamos ser a mais inteligente, a mais sensata, a mais engraçada, etc. Até lemos outras opiniões, desde que sejam pequenas, ou para contestá-las. Certa vez, assistia o programa do Danilo Gentili em que ele entrevistava o filósofo Mário Sérgio Cortella, e para ajudá-lo a se livrar de um fake na internet que se intitulava o filósofo, ele mencionou a seguinte frase, fazendo uma piada: "dizem que este programa só tem besteira, baixaria.. mas este programa também é de utilidade pública... mas se pudermos ferrar alguém, é melhor ainda".

Recentemente, publiquei algumas coisas que me fizeram pensar na sua repercussão negativa. Muitas pessoas fizeram questão de demonstrar seu desprazer em ver aquilo, muitas, de forma irônica, e ironia é o que não falta na internet. Pessoas, que em sua maioria, são apenas amigos cybernéticos. Meus amigos no mundo real, ou riram (por gostar), ou se calaram, diante daquilo ou simplesmente me disseram que não gostaram. Os que não falaram nada, não falamos nada. Os que apresentaram suas opiniões, contrárias ou a favor, criaram possibilidades de conversa, troca de experiências, o que é normal de uma amizade no mundo real. Mas meus amigos cybernéticos apenas quiseram expressar suas opiniões mesmo, nenhum me procurou para conversar sobre aquilo, falaram e foram embora. Engraçado que muitas pessoas que ridicularizam as outras consideram-nas como idiotas. Os gregos consideravam (id)iotas*, pessoas egoístas, que olhavam apenas para o seu próprio umbigo. Só que geralmente, as pessoas que compartilham, coisas, são justamente o contrário disso, em muitos casos, elas postam se preocupando com o outro, é claro que há exceções.

Minhas razões não interessam para os meus amigos cybernéticos. Porque na amizade cybernética o outro não é importante. Ser importante para alguém, é ser importado para dentro desta pessoa, mas isso só acontece no mundo real, em amizades reais. Nas amizades cybernéticas eu sou importante para mim mesmo. Pouco importa o outro. Eu quero mais é mostrar para o outro que o que eu penso é melhor. Mas enfim, esse texto é uma vingança, só um texto, uma parábola, um sermão, o que é? Eu prefiro pensar que esse texto é uma reflexão. Para meus amigos cybernéticos? Para meus leitores? Para a sociedade? Não, para mim, porque sou apenas amigo cybernético de muitas pessoas. Me calo quando o assunto é irrelevante para mim, mas se for muito contrário à minha opinião, eu falo mesmo, e não estou nem aí para o que o outro pensa. Falar é um direito, fato. Mas falar com sabedoria é uma virtude, ouvir e se preocupar com o outro é uma virtude maior ainda.

*Ela vem do Grego IDIOS, “pessoal, privado”. IDIOTES queria dizer “indivíduo privado”, no sentido de que ele não exercia um oficio público. A partir daí a palavra passou a ter o sentido de “homem comum” – ou seja, sem especial distinção – e depois começou a indicar “sujeito ignorante, de pouca inteligência e pouca valia”, pois não era capacitado para ter cargo oficial.

Conheça nossas Redes sociais:
FACEBOOK | GOOGLE + | INSTAGRAN | YOUTUBE | TELEGRAM | TWITTER
www.rodrik.esy.es