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O Sacrifício de Ifigénia (1671), de Jan Steen. |
Um verso como este não soa nada bem nos dias de hoje, dias de tanta militância feminista! Uma mulher, entregue por seu pai como um troféu?! "Que absurdo!" - podem pensar algumas almas desavisadas. Mas antes de adentrarmos nesta reflexão, é interessante esclarecer duas coisas: primeiro que este texto não é sobre feminismo (embora deva permear muita coisa sobre este assunto) e segundo, o feminismo precisa ser tão entendido quanto o cristianismo, porque boa parte dos que criticam, nada entendem sobre um ou sobre o outro. O objetivo deste texto é esclarecer como um verso desses não é razão de pavor ou assombro, basta não olharmos com um olhar anacrônico e nos abrirmos para entender seu contexto.
Ifigênia em Áulide é a última obra do dramaturgo grego Eurípedes, nesta obra, Agamenon sacrificará sua filha Ifigênia à deusa Artemisa, mas para leva-la ao sacrifício, engana sua filha dizendo que ela iria ser levada para se casar com o grande guerreiro Aquiles. Ambas histórias (da narrativa bíblica e esta de Eurípedes) possuem um ponto comum, em especial: o destino das filhas nas mãos dos pais. E até aí, ambas histórias podem causar a mesma repulsa em quem tenha um olhar feminista. Outro ponto em comum que podemos observar em ambas as histórias é que ambas as filhas aceitam seu destino, de ter que se casar com estes guerreiros citados.
Ifigênia em Áulide inspirou uma grande obra cinematográfica: Troia (2004), neste filme, Aquiles é interpretado pelo ator Brad Pitt, no auge de sua juventude. A diferença entre as narrativas e o filme é que assistindo ao filme, muitas mulheres com discursos feministas acabam cedendo à tentação de se casar com (este) Aquiles, afinal, um guerreiro como Brad Pitt inspira muitos sonhos de matrimônio por aí. Àquelas que não são tão seduzidas por Brad Pitt, basta substituirmos esta imagem por a imagem de um outro homem que possa vir lhes atrair. O resultado é que pra começo de conversa, em certos contextos, esses casamentos arranjados podem até não ser tão má ideia! Mas iremos nos aprofundar um pouco mais, porque apenas características físicas são argumentos muito superficiais, e de fato são!
O discurso feminista nos dias de hoje é totalmente palpável, e até facilmente atendido com suportes jurídicos, legislativos, etc. Mas é muito importante entendermos primeiramente que ele também só faz sentido se concordarmos que o contexto atual lhe é favorável. Já nascemos em um Estado, constituído de poderes, no caso do Brasil, os poderes executivo, legislativo e judiciário. Atendendo a estes poderes, temos diversas camadas de organização e organismos empenhados no bem comum para o livre gozo de nossos direitos. Só de falar assim, você deve se sentir um tanto desconfortável por saber que a teoria é linda, mas a prática deixa muito a desejar... Imagine então como seria há milênios atrás, onde não haviam estados constituídos e as nações começavam a se organizar!
Antes de termos Estados (Países) organizados e divididos da forma linda como vemos nos mapas, cada fronteira dessa foi conquistada à base de muito suor e sangue. Os povos lutavam e guerreavam entre si para conquistar e ampliar seus territórios, ainda ouvimos falar de guerras por território nos dias de hoje, no entanto, naquela época isso não era uma exceção, era uma regra! E se você pensar que sua casa poderia ser invadida a qualquer momento e sua família ser barbarizada (não existia polícia, e mal exército pra defender, a quem? Se era cada um por si?), a ideia de se casar com homens valentes, ter filhos valentes e uma família forte já começa a não parecer tão mal assim.
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Fico feliz em saber que um jovem ainda consegue questionar o que parece senso comum da nossa época.
ResponderExcluirVamos estudar,pensar,aprender a discutir sem agredir,questionar e aprender.
Opa, fico feliz em ter este reconhecimento, continuarei buscando estudar para ser relevante!
ExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirQue legal
ResponderExcluirAchei incrível. Parabéns
ResponderExcluirObrigado por sua contribuição!
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